Por Kleryston Negreiros
Esses dias, numa aula de literatura, exibi para meus alunos uma versão recente de Macbeth para posterior discussão. Enquanto assistiam, fiquei refletindo sobre a obra e sua atemporalidade. Esse é um traço dos clássicos, que os tornam obras relevantes e vindouras, e a peça shakespeariana não é diferente.
Nela, o nobre Macbeth recebe um vaticÃnio de três bruxas, ainda no campo de batalha, de que ele será coroado rei. Ao tomar ciência da profecia, sua esposa, Lady Macbeth o convence a matar o rei e seu prÃncipe (que sobrevive e foge) para que assuma o trono. Tomados de ambição, deixam então um rastro de morte e tirania para perpetuarem-se no poder. Porém, passam a ser assombrados pela culpa, que os leva à loucura, solidão e no fim à morte.
A obra trata de ambição desenfreada e da tirania por trás da busca pelo poder absoluto. A tragédia mostra o quanto o caráter de um homem (muitas vezes, já tendo valores morais questionáveis) pode mudar e como sua alma pode apodrecer em nome desse poder. Sua relevância está no fato de que isso é da condição humana. A tragédia está presente em nossa essência e somos fadados a atos vis, por isso a existência de valores morais para nortear-nos.
E por que estou falando de uma peça da era elisabetana aqui no O Congressista? Porque, enquanto ia vendo o filme com meus alunos fui pensando em nossa situação polÃtica atual e em como ficamos à mercê de um regime tirânico, vendo como várias almas foram ou são corrompidas em nome de um projeto de poder. Sim, estou falando desses treze anos de governo do PT, desses treze anos em que ficamos – e ainda estamos, se considerarmos a infiltração de sectários do partido em várias esferas do poder público e que ainda não caÃram – sob o jugo de tiranetes que buscavam não fortunas, mas uma eternização no comando do paÃs.
Nem pretendo falar de detalhes sórdidos que beiram à obscenidade. Isso já vem sendo mostrado em todos os veÃculos de comunicação. Na verdade, o que gostaria de analisar (ou tentar analisar) é como isso acontece. Como ficamos tão vulneráveis a esse tipo de pessoas. Como alguém que interage em sua vida privada, que tem amigos, familiares, filhos, netos, é capaz de, em nome de algo abstrato como o poder, em nome de dominar as vidas de todos e ter a todos sob sua tutela e capricho, promove todo tipo de atrocidade, todo tipo de vilania – e não é aquela caricata dos filmes do passado – para se manter como o mandatário de um paÃs.
Lula, Dilma e toda a sua corja um dia (acredito eu) tiveram algum princÃpio moral. Assim como Macbeth e sua esposa, um dia ambicionaram apenas tocar suas vidas. Porém, assim como eles, provavelmente algo os fez acreditar que eles eram os escolhidos, eles eram os vaticinados a guiar o povo e serem lÃderes. Alguém mÃtico deve ter dito: “sereis rei”!
E a partir desse ponto não mediram esforços, não avaliaram a moralidade de seus atos, simplesmente agiram. Como Macbeth, deixaram um caminho de sangue e miséria. Assim como Macbeth, encastelaram-se no poder. E assim como o Rei da Escócia, passaram a ver inimigos e sombras a quererem derrubá-los.
Eles se embriagaram de poder e aparelharam todo o sistema, corromperam as instituições. Roubaram, destruÃram reputações, perseguiram adversários e deixaram um rastro de destruição que ainda perdurará. Deixaram um mal enraizado de uma maneira tão profunda que, se regado, criará novos tiranetes, novos reis imerecidos que se agarram a tÃtulos e status e, como um Midas inverso, transformarão tudo que tocarem em fome e miséria.
E isso não ocorreu ou ocorre só em terras tupiniquins. Nesse momento, existem vários paÃses (alguns com estritas relações com o governo que terminou) cujos lÃderes se locupletaram do cargo de mandatário, que assumiram uma condição absolutista exercendo o poder máximo nessas nações sob os mais variados pretextos ideológicos ou religiosos. Todos foram seduzidos pelo poder absoluto e todos levaram seus povos à ruÃna.
Vivemos tempos sombrios, como viviam os súditos de Macbeth. Mas torço para que, assim como ele, esses nossos tiranetes sofram suas merecidas punições. Espero que, assim como a obra, os homens justos se ergam para destronar e arrancar o mal plantado em todos os recantos do poder. E que possamos ter um porvir onde Macbeth e outros tiranos sejam apenas exemplos de obras que tratam de um mal que já existiu e que deixe de refletir a realidade. Que aconteça em nosso tempo o destino de toda tragédia: a punição do mal.
------------------------------------
Kleryston Negreiros é professor e administra o blog Professor, Me Indica um Livro?
Também é membro do grupo Biblioteca Liberal-Conservadora
0 Comentários
Os comentários ofensivos e anônimos serão apagados. Daremos espaço à livre manifestação para qualquer pessoa desde que não falte com o respeito aos que pensam diferente.