A era dos mitos
Por Victor Oliveira
"Mito, mito, mito!" eles gritam. Com seu nome entoado por multidões que o acompanham em aeroportos e manifestações, o Deputado Federal Jair Messias Bolsonaro é um dos que se apresentam como provável candidato à presidência no ano de 2018. Sua ênfase na questão da segurança pública e sua postura politicamente incorreta vem agradando uma grande massa de eleitores que se vê enjoada das soluções que certos "inteligentinhos" - nos termos de Luiz Felipe Pondé - apresentam como de costume.
Por outro lado, temos em ascensĂŁo o retorno de uma velha figura carismática da polĂtica brasileira: Luiz Inácio Lula da Silva, eleito duas vezes presidente da RepĂşblica e principal figura do Partido dos Trabalhadores. O referido tem cada vez mais trabalhado em prol de uma narrativa polĂtica que o coloque em evidĂŞncia para uma nova candidatura. Seu foco ideolĂłgico se sustenta no discurso de defesa dos direitos dos pobres e menos desfavorecidos - discurso este que Ă© desde sempre caracterĂstica de sua carreira polĂtica.
Em ambos os casos os resultados tem se mostrado positivos ou negativos - eu diria. Na pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada no dia 15 de fevereiro, o Deputado Jair Bolsonaro demostrou destaque alcançando 11,3%, 11,7% e 12% das intenções do eleitorado nos respectivos cenários. Junto dele, Lula, mesmo sendo réu na operação Lava-Jato, demostrou possuir grande apoio ao liderar todos os cenários tendo 30,5%, 31,8% e 32,8% de intenções de voto respectivamente.
Mesmo sendo considerados de polos opostos do espectro polĂtico, com enfoques divergentes e atitudes e propostas que representam grupos diferentes no paĂs, Ă© com muita facilidade que podemos encontrar, tanto em um quanto em outro, semelhanças que identificam um fenĂ´meno em comum que faz da ascensĂŁo de tais figuras algo emergente no cenário polĂtico brasileiro.
Ao longo da histĂłria nĂŁo Ă© difĂcil encontrar as ditas figuras messiânicas que aparecem como salvadores da pátria em momentos de crise e desordem polĂtica. Foi assim com NapoleĂŁo Bonaparte, na França, com Adolf Hitler, na Alemanha, e parece que está sendo assim no Brasil atual tal como já fora em tempos de era Vargas. A carĂŞncia da população diante uma figura polĂtica que de alguma forma traga a sensação de segurança e estabilidade tem se manifestado cada vez mais.
O curioso Ă© que no caso nĂŁo lidamos com um fenĂ´meno unĂssono, mas com algo histĂ©rico que tem se espalhado em diversas faces distintas: nĂŁo temos apenas uma figura polĂtica messiânica, temos uma concorrĂŞncia entre figuras que no fim representam o mesmo sentimento, a mesma mentalidade de carĂŞncia e fĂ© polĂtica que busca enxergar em homens as respostas para as mazelas da sociedade.
Seja na esquerda ou na direta, esse pensamento apresenta problemas e equĂvocos que se levados Ă s Ăşltimas consequĂŞncias podem trazer respostas negativas para a ordem polĂtica brasileira que, convenhamos, já está bastante dispersa. E dentre os maiores problemas do messianismo polĂtico, a presunção de perfeição Ă© a mais equĂvoca. Ao depositar em um sĂł homem a capacidade de se obter sucesso, entende-se que de alguma forma este mesmo homem está moral, intelectual, fĂsica e espiritualmente acima de todos os outros.
Em confrontos, seus seguidores sempre demonstram um grande esforço em proteger o amado candidato das crĂticas que surgem. Com os mais diversos e atĂ© extraordinários malabarismos argumentativos eles nĂŁo cansam em sua apologĂ©tica ao grande salvador, sempre buscando desmontar todos os seus erros e criar a imagem de que suas virtudes sĂŁo monopolizadas pelo mesmo.
O monopĂłlio das virtudes Ă©, portanto, um dos elementos cruciais na defesa do grande lĂder, pois a Ăşnica forma de depositar todas as esperanças no messias polĂtico Ă© entender que existe uma virtude chave capaz de resolver todos os problemas e que somente o respectivo lĂder possui essa virtude, fazendo dele, portanto, a Ăşnica resposta possĂvel.
Não passa pela mente do fiel seguidor, porém, que o candidato preferido seja tão humano como qualquer um; logo está sujeito a erros, imperfeições, não possui a resposta para todos os problemas e é limitado pela sua própria natureza.
É preciso que sejamos prudentes em nossas paixões polĂticas, que venhamos a compreender que antes de tudo a polĂtica nĂŁo pode e nĂŁo deve ser lugar para projetos mirabolantes de sociedades abstratas advindas da mente de um indivĂduo como já denunciava o filĂłsofo polĂtico britânico Edmund Burke, no sĂ©culo XVIII, e que a responsabilidade sobre as virtudes e defeitos de uma sociedade vem antes de tudo de cada um de nĂłs.
Como diria o já citado filĂłsofo Luiz Felipe PondĂ©, "quando vocĂŞ acha que a culpa Ă© do capitalismo, que a culpa Ă© do patriarcalismo, que a culpa Ă© da famĂlia, que a culpa Ă© da igreja, vocĂŞ, na verdade, tá se eximindo da responsabilidade, porque todo mundo Ă© serpente no mundo”.
Tentar depositar no estado e, - pior ainda - em um homem, o monopĂłlio da verdade, Ă© depositar em um homem o status de Deus. É depositar a responsabilidade de dirigir de maneira centralizada e inquestionável um conjunto de indivĂduos e comunidades que estĂŁo sujeitos as imprevisibilidades e a mĂşltiplos “destinos” e valores que nĂŁo cabem nas mĂŁos de um suposto lĂder iluminado. Depositar em um homem a esperança cega de perfeição polĂtica Ă© entregar a verdade Ă s nuances de um ser imperfeito. A verdade, porĂ©m, Ă© que somente um Homem Ă© a verdade, e o seu reino nĂŁo Ă© desse mundo.
Victor Oliveira é estudante de Relações Internacionais e escreve periodicamente para 'O Congressista'.