A revolta de André Rizek com empresa estrangeira e porque o Brasil é um país isolado
Por Leonardo Ferreira
Na última segunda-feira (12) o mineroduto da empresa britânica Anglo American se
rompeu no município mineiro de Conceição do Mato Dentro, despejando cerca de 300
toneladas de polpa de minério no Ribeirão Santo Antônio e paralisando o
fornecimento de água potável da cidade. Desde então a empresa cessou suas
operações e se concentrou apenas na solução deste problema, sempre com
transparência diante das autoridades fiscais competentes. Após cerca de três
dias o fornecimento de água aos poucos já retorna à sua normalidade.
Enquanto isso, longe dali, em confortáveis ambientes climatizados nas grandes
cidades, gente inteligente e que sabe muito bem sobre tudo que acontece no
interior do interior de Minas Gerais, aproveitou o incidente para dar suas
lições de ética socioambiental aos responsáveis pelo incidente. O jornalista
esportivo André Rizek é um deles, sujeito influente na televisão por assinatura
brasileira, e que já há algum tempo vem somando forças às linhas de frente do
exército lacrador do PROJAC e deixando cada vez mais claras suas preferências
políticas.

Rizek em seu twitter demonstra indignação com o "país que estamos construíndo" e
faz referência à Anglo American como uma mineradora "gringa" que vai "chegar lá,
destruir tudo e ir embora com a conta cheia". Segundo ele, as grandes
mineradoras que atuam em Minas Gerais resumem seu trabalho em passar alguns
anos, sugar o que for possível e deixar os pobrezinhos brasileiros não só de
mãos vazias, mas também com suas belezas naturais destruídas.
O jornalista, reproduzindo sem pudor a dicotomia "opressor" versus "oprimido",
ignora completamente o cenário real do interior mineiro, onde pequenas e
isoladas cidades se tornam centros de referência em desenvolvimento econômico,
elevação da renda, acesso a serviços de saúde e educação, geração de empregos,
atração de investimentos etc. Somente a Anglo American gera mais de 5 mil
empregos diretos em sua atuação no Brasil, sendo muitos desses postos
preenchidos por pessoas de baixa renda e instrução, que ao longo de suas
carreiras na empresa recebem treinamentos constantes, melhorando suas
qualificações e permitindo a mobilidade social de suas famílias para uma
situação de maior bem-estar.
A operação Minas-Rio, que teve seu início em 2014, prometia investir R$425
milhões nas regiões de atuação da empresa, deste montante já foram investidos R
$380 milhões em municípios como Conceição do Mato Dentro, além da geração de
mais de R$150 milhões em recolhimento de Compensação Financeira para o Estado.
Quem vive na cidade - e este que vos escreve esteve lá em 2016 - sabe das
melhorias e do impacto que uma empresa deste porte causa na região, o que faz
com que cidades do interior estejam sempre tentando oferecer melhores condições
para que as mineradoras as escolham como destino de seus investimentos.
É mais que normal que a atividade mineradora corra riscos e imprevistos possam
acontecer. Grandes empresas de mineração trabalham incessantemente para que
acidentes não aconteçam pois - adivinhe só - tais incidentes e tragédias
ambientais geram um enorme prejuízo, e se o objetivo do negócio é a maximização
dos lucros - adivinhe mais uma vez - a última coisa que uma empresa como a Anglo
American quer é um acidente que paralise suas operações e desagrade seus
acionistas.
Mas basta um problema acontecer para que os monopolistas da virtude que habitam
algumas redações de jornais e canais de TV pelo nosso Brasil - munidos de seus
computadores, celulares e outros artigos feitos com minério de ferro - apareçam
como detentores de toda moral condenando o "capitalismo predatório" e "desumano"
das multinacionais que "exploram" o terceiro mundo para continuar seu ciclo de
dominação e subjugação dos mais fracos. Eis o discurso de DCE que muitos
ilustres profissionais de nossa imprensa apreciam brandar por aí.
Ato contínuo, seus seguidores reproduzem a mesma "sábia" opinião sobre eventos
que acontecem a centenas ou até milhares de quilômetros de distância,
alimentando a hostilidade contra empresas que não receberam o selo "getulismo"
de aprovação, e perpetuando o Brasil como o nanico diplomático que está sempre
preocupado com a preservação de suas "grandes riquezas naturais" (enquanto é
mais que sabido que abundância de recursos naturais não é um fator preponderante
para o desenvolvimento de um país).
Sempre empenhados em nutrir certo ressentimento contra povos de capacidade
técnica aparentemente superior, formadores de opinião como André Rizek seguem
criando um imaginário popular que permanentemente desemboca em um nacionalismo
geográfico raso que parece não querer deixar a metade do Século XX e continua
ignorando preceitos elementares de economia, como a divisão internacional do
trabalho, que se fosse levada mais a sério, talvez não precisaríamos continuar
mantendo a altos custos um parque industrial artificial e ineficiente, o que
demanda contínuas proteções do Estado, compromete nosso equilíbrio fiscal,
penaliza o cidadão comum e não deixa outra opção para o pobre morador do
interior de Minas senão torcer pela chegada de uma grande e próspera empresa
estrangeira para investir em sua cidade.