Por Leonardo Ferreira
A escolha de Guilherme Boulos como pré-candidato do PSOL à Presidência da República pegou de surpresa alguns seguidores da legenda. Em protesto contra a escolha de um dos grandes defensores de Luiz Inácio Lula da Silva e do Partido dos Trabalhadores, muitos se revoltaram alegando que o partido - criado com as mais "nobres" intenções de lutar pelo "socialismo real" - havia deixado seus ideais e se curvado à grande máquina política petista que há muito tempo se rendera aos "ditames do grande capital".
A escolha de Guilherme Boulos como pré-candidato do PSOL à Presidência da República pegou de surpresa alguns seguidores da legenda. Em protesto contra a escolha de um dos grandes defensores de Luiz Inácio Lula da Silva e do Partido dos Trabalhadores, muitos se revoltaram alegando que o partido - criado com as mais "nobres" intenções de lutar pelo "socialismo real" - havia deixado seus ideais e se curvado à grande máquina política petista que há muito tempo se rendera aos "ditames do grande capital".
O partido dissidente fundado por Luciana Genro, Heloísa Helena e outros menos conhecidos, sempre fez
questão de deixar claro que tinha divergências profundas com o Partido dos Trabalhadores, e que ali
sim os socialistas brasileiros encontrariam um terreno seguro e fértil para levar à frente suas
ideias humanitárias (que historicamente de humanitárias não têm nada). Nascia ali mais um partido de
esquerda, agora com um solzinho simpático que atraia os jovens, indicando um socialismo repaginado,
teoricamente diferente do velho comunismo autocrático que marcou o Século XX.
Mas e então, o que aconteceu na prática? O PSOL foi se firmando como um pequeno mas influente
partido, levando suas pautas radicais ao cenário político, ganhando espaço nas universidades e
lançando candidatos à presidência que faziam seus ideais soarem razoáveis e até desejáveis por alguns
setores da sociedade. Sempre mantendo um discurso de "não temos nada a ver com o PT", o partido
caminhava com ares de independência e autonomia, mas na política real as coisas não eram exatamente
como no discurso.
Enquanto o PT governava com muita popularidade, dialogando com os principais setores da sociedade e
enfraquecendo a oposição, o PSOL estava ali, logo ao lado, como fiel escudeiro, permitindo que o
partidão tivesse cada vez mais governabilidade, influenciando as diretrizes políticas da nação,
aprovando ou vetando leis em sincronia com seus aliados partidários e tratando de forma branda
investigações de corrupção que deixavam cada vez mais claro que, sem burlar o sistema, as pautas
revolucionárias eram praticamente inviáveis. Na teoria, o PSOL nasceu por divergências com o PT, na
prática, o PSOL nasceu pela necessidade da esquerda brasileira de ter um partido com uma cara mais
jovem, fiel às ideias, menos pragmático, um espaço para abraçar aqueles mais idealistas, com um
perfil que não contribuiria muito para a política real exercida pelo PT, tudo de acordo com o projeto
revolucionário de tomada gradual das instituições.
Não só o PSOL auxiliaria o "partido matriz" ao disputar em frontes diferentes, como também se
juntaria a outros partidos nanicos que sempre vemos por aí engrossando as manifestações convocadas
pelo PT, utilizando-se do milionário fundo partidário para manter uma estrutura de pressão social
extremamente sofisticada, sempre pronta para ser acionada nos momentos em que o projeto
revolucionário sofria alguma ameaça. PCdoB, PSTU, PSB, PCO e companhia, estavam sempre presentes,
assim como o PSOL, para viabilizar politicamente não o PT em si, mas a ideologia que todos eles
compartilhavam. O crescimento de outros partidos que auxiliavam o Partido dos Trabalhadores não era
só desejável, mas necessário para fortalecer a retaguarda do grande projeto político de longo prazo
que estava em pauta.
Bastou o enfraquecimento momentâneo do "partido matriz" (após uma série de medidas administrativas
catastróficas que levaram Dilma Rousseff ao impeachment) para que o PSOL deixasse evidente sua
função, cedendo espaço para Guilherme Boulos discursar em nome do partido, não escondendo sua grande
afinidade com velhos personagens da política brasileira. O episódio frustrou muita gente, o espaço
que fora criado para defender o "socialismo de verdade", devido a um momento político mais tenso que
o normal, teve que escancarar suas verdadeiras funções e mostrar que, no fim das contas, tudo não
passava de um grande teatro político em torno de um corpo homogêneo de ideias, que devido à estrutura
política democrática, convenientemente se fragmentou em várias agremiações, em vista de viabilizar o
projeto como um todo.
O socialista brasileiro pode pular de partido em partido, encontrando aquele que tem mais afinidade,
fazendo amizades, construindo sua história de ativismo e acreditando que está fazendo real diferença
no mundo, mas em meio a todo este universo de boas intenções, a verdade fica cada vez mais evidente:
não importa o quão sofisticada seja a estrutura política construída pela esquerda, no fim das contas
o socialismo não vai dar certo, seu destino sempre será a destruição dos direitos naturais e a
escassez de recursos que levará a nação, fatalmente, ao despotismo, e em seguida, ao seu colapso
econômico. E uma vez em colapso, não haverá mais solzinho, nem estrelinha, nem foice e martelo que
possam dar jeito, os sobreviventes suplicarão pelas instituições liberais que mudaram e continuam
mudando o mundo para melhor desde o Século XVIII.
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